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Jornada do Patrimônio 2024 Vila Mariana

Roteiros de Memórias na Bacia do Sapateiro e Chácara das Jaboticabeiras


O dia Nacional do Patrimônio Histórico é celebrado anualmente em 17/08. A data foi criada em 1998 em homenagem a Rodrigo de Melo Franco de Andrade, quando este completaria 100 anos. O incansável e dedicado historiador e jornalista mineiro, foi o primeiro presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), quando da sua criação em 1937 e permaneceu como a figura mais importante do órgão até 1967. O Decreto lei Nº 25 de novembro de 1937, que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, também foi criado na era Vargas.


A Jornada do Patrimônio da cidade de São Paulo realizada dia 17 e 18 de agosto de 2024, já na sua 10° edição, destacou o tema “PATRIMÔNIO E SUSTENTABILIDADE”, promovendo roteiros e eventos que dialogassem intensamente com o tema da sustentabilidade, cultura e preservação do Patrimônio vivo e a cidade sustentável!


Na Vila Mariana, celebramos o Patrimônio Cultural e Ambiental das águas e do verde, os locais de refúgio de pássaros, a história da urbanização consolidada na primeira metade do século XX e o envolvimento da comunidade na busca por mais qualidade de vida numa cidade cada vez mais verticalizada e quente.


Caminhada da Ana Rosa ao Parque Ibirapuera: O Rio Caaguaçu e Arredores

No sábado, 17/08, às 9h, organizado pela UMAPAZ (Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz) em parceria com a Associação de Moradores da Vila Mariana, o passeio teve a coordenação do eng. agrônomo Ricardo Fraga Oliveira e co-facilitação da arquiteta e urbanista Eliana Barcelos. 


Caminhar, sentir e observar. Tendo o rio aprisionado como motivo e a cidade em suas diversas dimensões urbanísticas, ambientais e culturais, o Roteiro foi recheado de sugestões e aprendizagem pelo caminho. Desde a verdejante Chácara das Jaboticabeiras, onde nasce o córrego Guariba, expulso dos subsolos a formar um pequeno riachinho de água cristalina nas guias das calçadas da praça Arquimedes, passando pelas nascentes do Sapateiro na região da Capitão Cavalcanti, os visitantes observaram os pontos de afloramento e “sumidouro” de águas até a “cachoeira” nas grelhas da rua Astolfo de Araújo. Águas que formam os lagos do Ibirapuera.

























Essa caminhada – leitura – aprendizagem da paisagem, esteve em constante diálogo e reflexão com as percepções dos visitantes in loco e as políticas públicas, o patrimônio, a zeladoria urbana, as formas e os usos construtivos no percurso.


Na micro bacia das Nascentes do Sapateiro, pela ladeira da rua Capitão Cavalcanti logo se vê a mata do colégio Madre Cabrini, antes de chegar ao vale da rua Luffala Salim Achoa, onde, ao lado do n° 111, uma calha de paralelepípedos rodeadas de frutíferas em crescimento, abriga o pequeno leito de águas correntes aflorados mais acima. Nesse 1° ponto de observação, a calçada virou mesa e um painel de imagens de edifícios construídos à revelia das fragilidades ambientais, se tornou uma sala de debate.



O 2° ponto de observação dos afloramentos na viela da rua Rino Pieralini, o mapa estampado no muro permitiu visualizar a região da micro bacia do Sapateiro. Os poucos edifícios identificados em meio ao casario ao redor foram questionados pelo grupo e o zoneamento entrou na pauta. 


A Jornada é sempre um momento de descobrimentos, celebração e debate. No evento de 2024, com a tragédia brasileira no sul e as mudanças climáticas, a proximidade das eleições municipais e as recentes revisões intermediárias das legislações municipais que norteiam a política pública, o tema da “SUSTENTABILIDADE” em evidência, chamou a sociedade a pensar sobre a relação desta com o Patrimônio.



A Revisão do Zoneamento (LPUOS) foi lembrada, observando que várias quadras na região das Nascentes do Sapateiro tiveram proteção, se convertendo em ZPR (zona predominantemente residencial) de acordo com os preceitos da revisão do Plano Diretor em 2023, mas na “revisão da Revisão” do Zoneamento, à revelia de constitucionalidade através de uma emenda 13, sem nenhuma discussão, uma quadra (83) foi transformada em ZEU (zona eixo de estruturação urbana). A mudança foi vista como um ataque à região de nascentes e patrimônio tombado.


Mas mesmo com o sol a pino apontando para meio dia, a jornada continuou com 32°. O grupo encarou a volta pela ladeira da rua Capitão Cavalcanti, e o passeio seguiu pela Humberto I, voltando à bacia do Boa vista, a fim de visitar outro ponto de afloramento histórico; o condomínio na av. Cons. Rodrigues Alves, construído sobre uma nascente. As águas abundantes brotam na guia da calçada e seguem pela rua Maestro Calia, no fundo do vale, até chegarem na rua Astolfo de Araújo!


Ali, pela ladeira, as águas brotam no asfalto, nos muros. A audição da queda d’água não deixa dúvidas para o espectador, vistas pelas grelhas no piso. As águas da “cachoeira” seguem retilíneas pelo túnel de concreto até os lagos do Ibirapuera.  

























Esperamos que a prisão das águas e do verde estejam com os dias contados no século XXI e emerja uma cidade esponja.

 

Patrimônio Ambiental no loteamento de Prestes Maia na Chácara das Jaboticabeiras


Na Chácara das Jaboticabeiras (CJ), o Roteiro organizado pelo Coletivo de moradores com o apoio da Associação de Moradores da Vila Mariana, começou na tarde quente de sábado às 15h na praça Arquimedes da Silva, ao redor das nascentes do córrego Guariba. A apresentação e facilitação foi feita pela equipe: Giovana Pastore, Jurema de Oliveira, Flávio Matunaga, Beta Carvalho e Eliana Barcelos. 



Com um painel ambiental, foram realçados na apresentação inicial o conjunto de valores que compõem a preservação e o patrimônio do bairro; as nascentes das encostas e seu afloramentos nas guias das calçadas, a vegetação abundante, composta por flora e fauna diversificada, a ambiência do conjunto edificado, a amenidade das ruas de paralelepípedos e o Boulevard Prestes Maia.



















O destaque do percurso ficou por conta do 2° painel que mostrou o Projeto do loteamento “Villa das Jaboticabeiras” – o Boulevard – de Prestes Maia & Bayma, na ladeira da rua Dr. Fabricio Vampré, onde lotes maiores e calçadas amplas, permitiu a presença de grandes canteiros e comportou a presença da flora exuberante do local, distinguindo este espaço das ruas vizinhas. 



Nesse painel histórico da ladeira Vampré, também foi lembrado as ameaças e as mudanças na Revisão da Lei de Zoneamento (LPUOS). Se por um lado a Resolução Conpresp 3/21 de tombamento da CJ permitiu uma contradição impensável e combatida judicialmente (de proteção, e) de verticalização na quadra 35 - em 7 lotes; a Revisão do Zoneamento tornou o território uma região excluída da ZEU e transformada em ZPR (zona predominantemente residencial), sendo assim enquadrada num zoneamento mais restritivo que a Resolução de tombamento.


Percorrendo e experimentando a paisagem da rua Fabrício Vampré, até a avenida Cons. Rodrigues Alves, uma série de nuances da paisagem... as casas coloridas com seus muros baixos e portões de ferro deixam entrever o movimento nos jardins ou pelas janelas.


O percurso terminou na praça Damásio Paulo, com um bate papo esquecido pelas horas, afinal, era uma tarde quente de inverno sob os ninhos do Tauató* e a lua quase cheia estava nascendo. Só os assovios dos pássaros de vez em quando cortavam as falas. Tudo isso é Patrimônio.

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